segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Nas Sombras do Amor - capítulo 1

Depois de brigar com minha mãe, resolvi sair para caminhar e refrescar meus pensamentos. Provavelmente eu estava fora de casa a mais de quatro horas, afinal agora estava escurecendo - quando eu saí ainda havia um belo sol iluminando essa cidade desconhecida. Pensei em pegar um táxi para chegar na casa da minha tia - eu não morava ali, tinha me distanciado muito da casa e não sabia o caminho de volta para lá. Droga! pensei bufando.

Virei uma esquina e percebi que não devia ter feito isso. Mas agora eu não podia mais voltar atrás, pareceria muito estranho e eu não queria dar uma de covarde. Uma garota sinistra estava parada no final de um beco sem saída, me encarando com uma expressão de Cai fora, se gosta da sua cara!

- O que você quer? - ela perguntou, ainda me encarando, mas não moveu nenhum músculo. Sua voz não era como eu esperava, parecia bastante feminina para uma garota daquela aparência. Vestia roupas escuras e surradas, seu cabelo - castanho escuro - caía sobre sua face e ela tinha uma tatuagem no alto do braço esquerdo - uma caveira.

- Preciso de uma informação - optei pela verdade.

- Boa sorte com isso, garoto - respondeu indiferente e eu percebia que ela não iria me ajudar, apenas queria ficar aproveitando seus momentos sombrios.

Como eu não respondi - e talvez ela nem esperava resposta - se virou, caminhou alguns passos em direção ao término da rua sem saída e ficou lá, esperando que eu fosse embora.

- Droga, me ajude!

- Eu não ajudo as pessoas - ela retrucou rispidamente, sem nem ao menos olhar para mim. Aquela garota começou a me irritar naquele momento. - A menos que você me pague por isso.

A proposta pairou no ar. Aceitar ou não aceitar? Eu precisava chegar em casa.

- Quanto você quer? 5 dólares?

Ela apenas gargalhou, mas olhou para mim novamente e caminhou alguns passos na minha direção. Parou quando dois passos nos separavam, dando a impressão de que conversávamos como velhos amigos.

- Tá de brincadeira! 5 dólares você oferece para sua irmã mais nova.

- Não tenho irmã mais nova.

- Tanto faz - ela bufou.

- Que tal... 20 dólares? É praticamente tudo o que tenho.

- Como assim praticamente?

- O restante vou precisar para o táxi - respondi vitorioso.

Notei que um leve sorriso se formaria na boca dela, mas ela impediu o acontecimento. Esticou a mão e fez um gesto de Passa o dinheiro e eu passei os 20 dólares que tinha no bolso.

Ela podia ser uma garota sinistra, mas inteligência obviamente não lhe faltava. Ela entendia as coisas rapidamente e eu acreditava que ela já tinha estudado numa escola algum dia.

- Então você quer um táxi? - não foi uma pergunta, foi mais uma afirmação com um toque de dúvida. Eu apenas acenei com a cabeça de modo afirmativo. - Pois bem, não tem táxis neste bairro, mas eu posso te levar até o centro da cidade e lá você consegue um rapidinho.

- Ótimo. Demora muito para chegar no centro da cidade? - essa era uma preocupação.

- Não, mas você terá que me seguir por alguns atalhos - respondeu, pensativa.

- Que tipo de atalhos?

Em vez de me responder, ela se virou de costas e caminhou na direção da parede de tijolos no final do beco. Para minha surpresa, ela escalou uma espécie de escada que tinha ali e pulou para o outro lado do muro. Entendi imediatamente que eu enfrentaria muitos lugares estranhos.

Como não havia outra opção e eu tinha perdido parte do meu dinheiro, fui obrigado a seguí-la. Demorei um pouco mais para escalar a escada, mas ela estava me esperando do outro lado e eu pulei ao lado dela.

Caminhamos por alguns minutos em silêncio em meio a pequenas ruelas, sombras e prédios mal pintados. Apesar de ser escuro, ainda dava para ver a silhueta da garota em minha frente perfeitamente bem. Para ser uma garota "de rua", seu andar era bem delicado.

- Por que não podemos andar por lugares comuns, sem todos esses obstáculos?

Ela não parou de caminhar -tampouco olhou para mim -, mas respondeu.

- Indo pelo caminho "normal", toparíamos com a gangue do Smith.

- Quem é Smith? - perguntei atônito.

- Um cara que você jamais gostaria de conhecer - respondeu ela, com um certo tremor na voz.

- Mas não teria problema de passarmos pela gangue dele sendo que você o conhece.

- Isso não te interessa - ela colocou um ponto final na conversa - Apresse o passo ou não vai chegar antes de o sol nascer novamente - reclamou, começando a correr.

Resolvi me calar e apressar o passo, conforme ela sugeria.



[Continua] B.

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